Apresentação

Na Grécia antiga, as ágoras eram as principais praças públicas da pólis - praças de comércio e debates filosóficos... Resolvi então apropriar-me do termo para inaugurar uma nova praça virtual. Ressalto que as praças só têm serventia quando são frequentadas, por pessoas com opiniões e vontade de interagir. Quando geram convivência. Acredito que é através da convivência com nossas famílias, amigos e todos os outros que se interessam ou não pelo mesmo que a gente, que a cultura de um lugar pode ser preservada, transformada ou extinta. Por isso, convido vocês a circularem por aqui, me contarem seus casos e seus projetos. Vamos “contar pra todo mundo” o que acontece; desde os espetáculos de porte até as atividades mais simples que nem eu nem você pesávamos antes na balança da cultura.Vamos sentar e conversar sobre o que nos motiva e nos emociona no dia-a-dia. A cultura é influenciada por muitos fatores... O desafio é abordá-los de forma interessante. Para isso, preciso da sua contribuição. Não existe diálogo de um só... Falem comigo.

março 01, 2011

Oscar 2011 - Propaganda Eleitoral


"Contra o preconceito relacionado à idade dos 50 adiante, vote Melissa Leo para Atriz Coadjuvante"

Hein?

Há cerca de oito anos, escrevi uma Conversa de Cinéfilo discutindo as táticas sujas da Miramax na corrida ao Oscar - táticas que continuariam a ser empregadas pelos irmãos Weinstein e por seus concorrentes até os dias de hoje (vide, por exemplo, a discussão sobre a tendência inicial do Rei George VI, protagonista de O Discurso do Rei, de não confrontar os nazistas e perceba como esta surgiu "coincidentemente" na época das indicações ao Oscar). Porém, se por um lado recrimino com veemência a própria idéia de transformar um reconhecimento artístico em campanha política, por outro sei que isto é tão antigo quanto a própria Academia. Além disso, produtores são produtores - e faz parte de seu modo de pensar encarar os troféus como algo que possa alavancar a carreira financeira de um projeto (ou de seus envolvidos) e que, portanto, deveriam ser encarados como um investimento.

No entanto, quando indivíduos que deveriam se preocupar com sua Arte entram na lógica comercial do lobby por prêmios, a questão se torna deprimente.

Entra Melissa Leo, uma atriz admirável que nos últimos anos finalmente vem recebendo o reconhecimento por uma carreira recheada de belas interpretações. Depois de estrear nas telas aos 25 anos, Leo viria a começar a atrair a atenção da mídia, dos críticos e dos próprios colegas apenas 18 anos depois ao interpretar com sensibilidade a esposa sofrida de Benicio Del Toro em 21 Gramas, numa atuação que muitos julgaram que seria inevitavelmente indicada ao Oscar. Não foi, é verdade, mas ao menos trouxe à atriz a oportunidade de passar a atuar em produções maiores (mesmo que nem sempre boas) como O Amigo Oculto e Três Enterros. Logo, porém, ela voltou a ser esquecida - até que o talento a trouxe de volta ao centro das atenções graças ao independente Rio Congelado, que lhe rendeu a surpreendente indicação ao Oscar. Leo não venceu (Kate Winslet foi premiada por O Leitor) e isso, aparentemente, mexeu com sua cabeça.

Porque nada explica sua decisão de comprar, esta semana, anúncios nas principais trades de Hollywood para tentar divulgar sua própria performance em O Vencedor. Ora, normalmente, o estúdio já investe pesadamente neste tipo de publicidade - e, de fato, é impossível entrar em sites especializados como o Movie City News, a Variety, Hollywood Elsewhere, entre outros, sem encontrar banners que trazem em letras garrafais o tradicional "FOR YOUR CONSIDERATION" acompanhado pelos nomes de Christian Bale, Melissa Leo e Amy Adams, todos indicados ao Oscar pelo filme de David O. Russell.

Assim, por que Leo tomaria a impensável atitude de investir seu próprio dinheiro (e seu nome!) em anúncios pessoais? Porque, aparentemente, não está satisfeita com a campanha e com o fato de "não ter sido convidada a aparecer em mais capas de revista" (suas palavras, não minhas). Infelizmente, porém, ao comprar os anúncios dedicados a si mesma, Leo está cometendo uma gafe monumental, já que raramente atores tomam esse tipo de atitude justamente por reconhecerem que trata-se de prática vista com desconfiança pelos colegas.

E deveria mesmo ser vista assim, já que não apenas é cafona, mas deselegante. No caso de Leo, a situação se torna ainda mais incômoda pelo fato de estar concorrendo com uma colega de elenco pela estatueta (Amy Adams) - e sua justificativa de que decidiu tomar esta iniciativa por ver-se vítima de "preconceito com relação à sua idade" pode até ser real, mas soa como uma desculpa das mais esfarrapadas.

E o curioso é que, até então, ela vinha sendo vista como a grande favorita ao prêmio, sendo perfeitamente possível que sua atitude venha apenas a prejudicá-la. Sua atuação em O Vencedor é fortíssima, mas é preciso lembrar sempre de que toda eleição envolve também a personalidade e a simpatia dos concorrentes, não apenas sua carreira - e, portanto, eu não me espantaria ao descobrir que, com seus anúncios cafonas, Melissa Leo acabou prestando um imenso favor às suas concorrentes.

Texto de Pablo Villaça

http://www.cinemaemcena.com.br/pv/BlogPablo/post/2011/02/05/Propaganda-Eleitoral-Gratui-Carissima.aspx

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